Caminhando e cantando e seguindo a canção e/ou por que é que tu não vens?
A flor da idade já passou e nada mais me faz correr a não ser que realmente valha a pena a viagem.
Quando éramos pequenas, lembro que a mãe contava a história de um tio-avô que tinha algo em torno de 98 anos e que ainda corria para pegar o ônibus. Não é uma metáfora. Quando saía - não sei pra qual compromisso, mas sempre na fatiota -, se porventura estava indo à parada e o ônibus passava, ele dava uma corridinha para não perdê-lo.
Não consigo começar a imaginar os motivos pelos quais ele corria.
Para não se atrasar seria a resposta mais óbvia, mas quem não esperaria por um senhor da idade dele? E outra, se ele se atrasasse, com a idade que tinha, que diferença faria? Para manter a forma física? Será? Fato que suas estratégias de saúde deviam funcionar, afinal, já havia chegado a uma idade bem avançada. Mas será? Por hábito? Pode ser... Por mais que eu pense, não consigo chegar a uma conclusão e jamais saberemos. Sempre lembro da história e dou risada, que é o que me resta.
Por que estou falando disso? Porque queria contar que eu não corro mais para pegar o ônibus. Na realidade, dificilmente corro para qualquer coisa.
Às vésperas - literalmente - dos 44 anos, não porque eu seja millenial, que é um título que não uso muito, mas porque acho que já corri demais na vida. Não que eu me sinta velha, pelo contrário. Tampouco sou preguiçosa ou deixo de correr se for mesmo o caso. Mas acho - será? - que sou convicta de que há coisas pelas quais não vale a pena se acelerar na vida, e vai por aí meu pensamento hoje em dia.
Quando somos jovens, acho que vale tudo. Inclusive correria.
Mas acho que minha geração valoriza - ou se dá o direito de valorizar - mais o que faz bem, deixando cada vez mais de lado o que não faz.
De 1980, nasci em um mundo de quebras frenéticas de paradigmas. Fomos do nada à IA e vivi tanto uma infância analógica de tédio na biblioteca quanto o cenário de tecnologia ao qual temos acesso hoje.
A real é que a correria contemporânea parece ser o único caminho e às vezes vamos por ele apenas para sobreviver.
Mas com o tempo percebi que essa corrida não traz nada. E parei. Agora caminho. Os passos são mais delicados, também, e sobre tênis confortáveis, porque meus joelhos não são mais os mesmos dos tempos de atleta - teve isso, acreditem. Tema para outro texto!
Ser millennial é engraçado; ser cringe é até meme. Pode significar lerdeza (até mental) às vezes, mas realmente acho que a gente deve cuidar da saúde (principalmente a mental) e que isso não é sinônimo de preguiça.
Ao invés de correr pelo ônibus, vou andarilhando por aí e, se perder a viagem, sigo a pé mesmo, curtindo o caminho.
Se vejo um passarinho na rua, reduzo os passos, deixo que ele atravesse. Espio seus movimentos, numa vibe "carpe diem" ou "seize the day" - aproveite o dia -, afinal, ele na pressa pode estar indo namorar ou cuidar dos filhotes. A primavera está chegando e já está linda, em polvorosa.
Meu pai costumava imitar os fonemas dos passarinhos quando eu era pequeninha, e, poeta que era, inventava altos diálogos entre eles para nos fazer dar risada. Tinha um “piadinho” recorrente entre um casal de sabiás que frequentava nossa sacada que ele jurava que o macho dizia “por que é que tu não vens?” ao chamar por sua companheira.
Acompanhar os passos saltitantes dos passarinhos tentando imaginar sobre o que eles estão conversando é algo que faço sempre, e lembrar dessas bobagens da minha infância me fazem minimamente sorrir.
Só por isso já vale a viagem e vale desacelerar quando perdemos o ônibus.
Não corro mais para porque hoje em dia busco mais alimentos para minha alma, busco ar puro - luxo em Porto Alegre -, vento na cara, natureza, tempo de qualidade com as pessoas - inclusive a pessoa felina - que amo.
Andar a passos lentos - e a idade, né - me trouxe mais clareza - coisa de Clariane! - e me fez entender que não ganhamos nada por acelerar as coisas na vida.
E você, corre por aí?
Acho que só vale a pena seguir…
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova liçãoVem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
As fotos são do Canva Premium porque sou dessas, tenho assinatura para poder pesquisar fotos aleatórias livremente. A primeira veio com a busca “caminhando bosque” e a segunda apenas “passarinhos”. Citação da música de Geraldo Vandré, né, até rimou.