Crossover com Vincenzo traz drama dos personagens
Dorama Rainha das Lágrimas trouxe às telas personagem queridinho dos dorameiros para encantar e aumentar audiência. Funcionou.
Os doramas, dramas televisivos que surgiram no Japão nos anos 1950, ganharam versões chinesas (c-dramas) e sul-coreanas (k-dramas) ao longo das décadas. Inicialmente, eram populares apenas no leste asiático, mas isso mudou com a explosão da cultura oriental nos anos 2000, impulsionada por animes e outros produtos culturais do Japão, China e Coreia do Sul.
"Dorama" vem de "drama", e são produções que, similares às novelas brasileiras e séries norteamericanas, abordam temas como família, romance e relações interpessoais. Uma característica marcante é a profundidade dos roteiros, que torna as histórias universais e identificáveis, mesmo entre culturas distintas.
Conhecidos como "novelas asiáticas", os doramas se assemelham mais a séries e são transmitidos em episódios. Cada país imprime sua cultura e valores nos roteiros, resultando em estilos distintos: os k-dramas (Coreia do Sul) são mais leves e cômicos, enquanto os j-dramas (Japão) tendem a ser mais sérios e dramáticos.
No Brasil, o consumo de doramas disparou, especialmente com o fenômeno do Hallyu (onda coreana), potencializado pelo k-pop e sucessos como o filme "Parasita" e a série "Round 6". A pandemia também impulsionou o fenômeno e, em 2022, o Brasil foi o quinto maior consumidor de doramas do mundo.
As redes sociais e as plataformas de streaming foram cruciais na disseminação desse tipo de produção. Os fãs ajudaram a popularizá-las, até porque são projetos fáceis de maratonar e que facilmente viram tópico de memes e debates na internet. Entre 2019 e 2022, o consumo de doramas na Netflix, por exemplo, sextuplicou, e títulos asiáticos frequentemente são vistos dentre os Top 10 da plataforma no país.
Como boa dorameira que sou, comecei bem antes a cultivar meu Netflix coreano.
Tudo começou com o Cha Dal-geon, protagonista de "Vagabond" (Retaliação), em janeiro 2021. O tédio da pandemia já era rotina, e experimentar novos formatos de maratona era bem-vindo.
A animação foi tanta que, quando a Netflix me ofereceu "Stranger", com o incorruptível procurador Hwang Shi Mok (Cho Seung Woo), aceitei de pronto, e daí para assistir Vincenzo (Song Joong-ki) foi um passo - e um caminho sem volta. Já foram mais de 150 doramas e eu sou hoje uma apaixonada pela cultura coreana.
Tradicionalmente, os doramas têm cerca de 1h40min de duração por episódio e uma média de 20 episódios por temporada. Com o passar do tempo, passaram a ter 1h e 16 episódios. Hoje, mais formatados para o cenário global, aparecem em 6 a 12 episódios de 45 a 50min.
As produções não costumam ter mais de uma temporada, mas pode acontecer, como foi o caso dos sucessos “Vincenzo”, “D.P. Dog Day” e mesmo “Round 6”, que gerou até um reality show na sua esteira.
As narrativas focam muito na relação entre os personagens e, a partir daí, seguem um gênero, como romance, comédia, drama etc. ou mesmo um mix deles. Os doramas, principalmente os sulcoreanos, expressam muito bem as emoções humanas. Tendem a ter um caráter envolvente e começo, meio e fim. Dividem-se em alguns tipos de acordo com o público-alvo, como séries que abordam o cotidiano, produções de época, suspenses ou até histórias românticas.
No decorrer dos episódios, é normal termos ápices narrativos como a apresentação dos personagens, que são superbem desenvolvidos, com descrições complexas que perpassam episódios; os encontros entre eles, frequentemente com a formação de um par romântico principal ou mais de um - às vezes isso acontece bem no início da série, e nem sempre é segredo -; o desenrolar de um crime ou de uma investigação - nem sempre somos privados da verdade, muitas vezes sabemos mais do que alguns personagens - etc. Podemos ter corrupção, luta pela justiça, conglomerados, a busca pelo sucesso, um recomeço de vida ou carreira... Os temas são bem simplórios, mas o desenvolvimento deles normalmente é profundo. Saúde mental é um tema bem recorrente também.
Não raro temos o que o grande teórico de cinema Jacques Aumont chamaria de o "drama dos objetos", conceito que roubo e expando para explicar os "dramas particulares", que nada mais seria do que bastante tempo de tela para se aprofundar em plots paralelos. E essa é grande parte da graça dos doramas, pelo menos pra mim: a quantidade de pessoas e enredos pelos quais torcer.
Chegamos finalmente no que me motivou a escrever o texto: a produção "Rainha das Lágrimas" sucesso recente na Netflix (naquelas, né, há um tempinho já, mas sempre vejo em delay). A história traz um casal lindinho, uma esposa doente, um conglomerado corrupto, blablabla.
A questão é que a série faz um crossover, e é aí que quero chegar, com nada menos do que "Vicenzo". Sim, ele. Aham, ele mesmo. O advogado mafioso ítalo-coreano cheio de charme, protagonista de um dos doramas mais aclamados do streaming internacional, personagem queridinho entre os fãs do gênero. No oitavo episódio, o ator Song Joong-ki aparece para ajudar os protagonistas em um caso de divórcio. Não são nem cinco minutos, mas que ideia genial!
Muito comum hoje em dia nas redes sociais, o crossover pode ser feito entre veículos e canais de comunicação, influenciadores, marcas, ou criadores de conteúdo de diferentes nichos ou plataformas para produzir conteúdo conjunto. Tradicional há muito tempo no cinema, acontece bastante em filmes de super-heróis, por exemplo, quando personagens de uma história invadem outras narrativas.
Em um dorama, confesso que é a primeira vez que vejo. E achei sensacional. Além de ser uma boa estratégia de marketing e gerar forte engajamento, é o Vincenzo, né, cazzo!
Esse texto não tinha objetivo existencial nenhum, apenas fiquei animada com um episódio banal de uma série banal. É raro, mas acontece.
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