Dia da Pizza e/ou Dia da saudade dos sabores da infância

A cobertura da pizza nem sempre é o mais importante. O que importa mesmo é o aroma que invade a casa, a bagunça do preparo, as lembranças que a comilança imprime em nossas memórias

Se me pedirem pra dizer qual é minha pizza preferida, a pizza do meu coração, jamais hesitarei.

(Lembrei da Scarlett O'Hara, de E o Vento Levou, que disse:

Por Deus, eu juro! Por Deus, eu juro: eles não vão acabar comigo! Eu vou passar por tudo isto e quando terminar, jamais sentirei fome de novo. Nem eu, nem minha família. Mesmo tendo que matar mentir, roubar ou trair, eu juro por Deus, jamais sentirei fome novamente!

que é mais ou menos um dos meus lemas de vida).

Voltando...

Minha pizza preferida não é a Margherita, que como toda vez que vou na Brizza (com rúcula à parte), tampouco a Calabresa, queridinha da nação.

Na realidade, ela nem tem muito cara de pizza. Pelo menos não daquela italiana clássica, tampouco da "napoletana", que é a mais tradicional hoje em dia.

Minha pizza preferida é a Pizza de Aniversário.

Muito parecida com a Sfincione (pizza siciliana), clássica de Palermo, que é uma mistura de "pizza al taglio" com "pizza alla milanese", a Pizza de Aniversário tem uma massa alta, é assada quadrada e coberta com molho de tomate, cebola, anchova, queijo e orégano.

No Brasil, muito possivelmente pelo custo, virou tradição fazê-la com sardinha. Sim, aquela em lata. É, aquela que nem posso comer mais. De massa levemente adocicada, é pura memória afetiva.

Lá em casa, era a pizza dos lanches especiais, dos domingos. A que a mãe fazia, e olha que ela não era muito de cozinhar, era maravilhosa, assada num tabuleiro grande, com massa fofa e docinha e um molho encorpado de tomate com sardinha que era de lamber os beiços.

A cobertura nunca foi o mais importante, tanto que, quando me tornei alérgica a peixes e frutos do mar, passei a fazer com queijo e presunto e tudo bem.

O que mais importava era o aroma com que a pizza perfumava a casa quando ia ao forno. A correria e a bagunça do preparo. A sujeira que fazíamos na cozinha. O barulho da faca de serrinha cortando os quadradinhos. O sabor de festa...

Fiquei anos sem fazer, quase a esqueci.

Formei-me cozinheira internacional, confeiteira, padeira e pizzaiola; eduquei meu paladar com os insumos mais caros e elegantes; passei por fases sofisticadas, quando, na minha cozinha, só entrava fermentação lenta, queijo artesanal e farinha italiana; fiz catering para chiques e famosos e servi anos à alta gastronomia.

Com o tempo, porém, me encontrei fazendo receitas caseiras para as festas das pessoas comuns, as mundanas, aquelas que choram desconto na hora de fechar o orçamento. Para elas, dediquei todo meu conhecimento e empatia e procurei servi-las da forma mais dedicada com os sabores que me eram confortáveis.

Foi aí que a Pizza de Aniversário entrou no meu cardápio. E foi um sucesso. Nas festas infantis, brilhava ao lado dos cachorrinhos com molho de cenoura, dos hamburguinhos orgânicos, das minitapiocas, da pipoca e dos docinhos sem corantes.

Ela passou a fazer parte do meu ato silencioso de resistência por uma gastronomia saudável e feita com comida de verdade.

Por seus anos de serviço prestado à @mariabolachinha, presto a ela hoje essa homenagem, compartilhando sua receita com vocês que me acompanham por aqui:

Pizza de Aniversário

Ingredientes

1 colher (sopa) de açúcar

1 colher (sopa) de fermento químico

1 xícara (chá) de leite

35g de manteiga

2 xícaras (chá) de farinha de trigo

Sal a gosto

1 lata de molho de tomate

1 lata de sardinha

Opcional: cebola, queijo, orégano

Modo de preparo

Misture os seis primeiros ingredientes até formar uma massa homogênea (pode ser no liquidificador).

Despeje a massa em um tabuleiro untado e enfarinhado.

Distribua as sardinhas, o molho e o que mais seu coração mandar.

Se quiser, finalize com queijo ralado.

Leve ao forno preaquecido por cerca de 30min, até dourar as bordas.

Coma quente e com as mãos.

Às vezes, a melhor receita do mundo é aquela escrita a mão esquecida num caderninho sujo. Aquela que a gente cresceu comendo com as mãos, sentada num banco de plástico, com a roupa suja de molho e o coração cheio de sonhos e esperanças.

Feliz Dia da Pizza. E que nunca nos falte doçura e boas lembranças na vida.

Imagens: Brizza / Divulgação; Canva Imagens; Maria Bolachinha / Divulgação; Canva Imagens.