Finalmente algo que valha a pena escrever e/ou ler ou ainda o soffritto está pronto
Depois de quase um ano eu, redatora de gastronomia, decidi escrever sobre comida
Vi na madrugada um post sobre como poderíamos começar o ano melhorando nossa alimentação - da universal Rita Lobo - e percebi que estou perdendo tempo - o meu e o de vocês - tentando escrever sobre outra coisa que não é comida. Sério, como eu não tinha me dado conta?
Enquanto escuto a rádio do David Guetta - depois de ler numa newsletter aleatória o quanto era bom ligar o f0d@-s&! ouvindo o tipo de música que ele faz (não sei qual news, não lembro, essa inclusive é uma das coisas que quero organizar este ano: minhas referências) - "escrevo estas mal traçadas linhas" sobre o quanto é óbvio o que eu quero / posso / devo? escrever: boia.
Ao longo do tempo, tenho certeza de que acumulei um conhecimento bem interessante sobre gastronomia, nutrição, comilança, e até sobre gula. Isso não apenas porque trabalhei com cozinha durante 10 anos sendo muito estudiosa, mas também, e sobretudo, porque venho de uma família absolutamente fissurada por comida.
Sou de uma geração em que não existia muito essa coisa de "criança não pode comer isso" ou "aquilo"; nós, enquanto crianças, não podíamos escolher muito o que comer como os pequenos de hoje; não existiam lá muitos menu kids nos restaurantes e; mais importante do que tudo; não tinha tantos ultra e processados no prato. E não era complexo isso tudo, pelo contrário, acho que tornava as coisas mais simples. Será?
Provavelmente.
Em termos de indústria alimentar, existia menos tecnologia, fato. Mas veja bem: por isso mesmo é que os alimentos não eram tão bugados e cheios de ingredientes sinistros. Era mais comida de verdade, porque o ser humano ainda não tinha aprendido a fazer alguns paranauê que podem ser válidos por motivos de nutrição e de estender a validade dos alimentos de forma sana mas fora isso qual a justificativa?
Os aditivos alimentares são colocados nos produtos para funções de segurança de alimentos (TOP!), qualidade (pra quem?), conveniência (eu te pedi isso? te pedi alguma coisa hoje? kkk) ou aparência (fecha os olhinhos, vai).
Quando é para segurança, maravilha. Para melhor conservar e aumentar a durabilidade dos alimentos, aí sim. Agora, para melhorar aparência, textura, sabor? É golpe. Puro e simples.
Ter mais gosto de algo? COME ALGO. Ter mais aroma de não sei o quê? COME NÃO SEI O QUÊ. Ter COR de alguma coisa? COR. Pelamor, nossa mente é criativa o suficiente pra gente fechar os olhinhos e imaginar o que está comendo, seja da cor que for. Então pra que corante? Aromatizante? Saborizante?
Uma tecnologia válida, que ainda está a quilômetros de distância do ideal mas já caminha, felizmente, é criar opções veganas. Daí sim, me convida!
Agora para facilitar a vida da indústria? Tenha uma vida mais difícil, indústria, tô nem aí, todos temos, vire-se. Agentes de fermentação, melhoradores disso, antiaglomerantes (aglomerem-se, grumos, vamos lá!), por favor, simplesmente melhorem e tenham soluções mais saudáveis pra não mexer com a gente.
Enriquecimento nutricional? TOP! Adicionar vitaminas e minerais para corrigir deficiências nutricionais e promover saúde pública? Desde que adicionar vitaminas e minerais realmente corrijam deficiências nutricionais e promovam saúde pública.
Mais do que aliar ciência à gastronomia, a tecnologia de alimentos tem a obrigação de aliar saúde à alimentação.
Por que estou dizendo isso tudo? Porque sou de uma família fissurada em comida e esse é um assunto muito sério pra nós. E é sobre isso que vamos falar a partir de agora: boia.
Foto linda do Bruno Alencastro, meu fotógrafo preferido.
*Soffritto é italiano para uma mistura de cebola, cenoura e aipo que, finamente picados e refogados no azeite e/ou na manteiga, dão a base da maioria das preparações, emprestando à comida seu talento de perfumar e saborizar - sem “antes”. É tão rico que facilmente pode ser o tema do meu próximo texto.