Sonho meu, sonho meu... e/ou Run Forrest Run
Qualquer coisa que você faça será insignificante, mas é muito importante que você faça. [Mahatma Gandhi]
Esses dias, lendo as provocações que surgiram em Cannes Lions 2025, me deparei com um insight aleatório (do Richard Edelman) que, pelo menos pra mim, fez muito, muito sentido:
O propósito não morreu. Só mudou de endereço: saiu do "we" e foi pro "me".
Assim, na maior naturalidade, a verdade sambando na nossa cara.
Depois de guerras, da pandemia, da enchente, das guerras (!!!) e mais de uma centena de pequenas tragédias que acontecem no dia a dia, o que sobrou? Estamos exaustos.
Por consequência, e com todo direito, estamos mais pragmáticos, olhando menos pro mundo e mais pro nosso próprio umbigo.
O briefing da vida mudou. Esquece "salvar o planeta". O que todos queremos é segurança, estabilidade, saúde, paz. Primeiro: meu lar, minha família, meu futuro; depois: o mundo.
Pensando nisso tudo, a ironia acendeu um letreiro iluminado daqueles da Hollywood dos anos 30 na minha cabeça: justo agora, quando o planeta mais precisa, todo mundo decidiu olhar pra si.
Lá na Eco-92, quando o otimismo era mais barato e a promessa de um futuro sustentável parecia palpável, o mundo inteiro falou que protegeria o planeta. Todos fizeram juras de amor à biodiversidade, aos povos, às florestas, às futuras gerações (que somos nós, aliás, além da geração Z e da Alpha).
Eu era criança, 12 anos, 6ª série, flor da idade. Fiz um trabalho lindo escrito a mão em papel almaço, com uma baita introdução, clipping das reportagens do evento, uma lista infindável de compromissos coletivos e uma conclusão arrebatadora que se tornou como que uma promessa de vida pra mim.
Mas a maior parte do que foi definido lá, há 33 anos, ficou no papel. O que deveria ser um plano de ação virou um checklist eterno, daqueles que ficam abandonados no Trello. Com os prazos todos vencidos, não tem mais "futuro distante". É agora. Enquanto escrevo este texto, o Guaíba tá a 30cm da cota de inundação (e subindo).
A resposta talvez esteja na COP 30, que vai ser bem aqui, na Amazônia.
Linda, by the way.
Pode ser nossa última grande oportunidade. E talvez seja destrutivo para Belém do Pará. Vivemos em eterno paradoxo.
Nele, a pergunta que não cala é: se o mundo inteiro anda mais preocupado em pagar o próprio boleto, quem vai correr atrás do prejuízo?
Quando estou no "modo preguiça" (99% do tempo), lembro daquele meu tio-avô que, lá pelos seus 98 anos, corria pra não perder o ônibus. Contei a história aqui e amo cada palavra desse texto.
Nunca entendemos se ele corria por costume, teimosia ou só pra provar pra vida que ainda dava tempo.
Talvez seja isso. Talvez, mesmo exaustos, mesmo descrentes, mesmo com vontade de largar tudo e cuidar só do próprio quintal, a gente ainda precise correr. Não por desespero. Não pra salvar o mundo. Mas porque tem coisas que valem o passo acelerado. Tem coisas que cada um de nós pode fazer.
Eu estive lá. Fiz comunicação comunitária numa ONG de mulheres recicladoras, fiz compostagem, separei o lixo, compensei a pegada... dei palestras defendendo chocolates orgânicos.
Ao longo de 15 anos de gastronomia, estudei orgânicos, plantei orgânicos, comi orgânicos e vendi comidas e doces feitos com orgânicos. Fiz parte de uma associação agroecológica linda, em Nova Petrópolis, a Nova Vida (e posso provar).
Até meu trabalho de conclusão da pós foi sobre agricultura responsável de oliveiras. Só amor!
Hoje, como orgânicos o máximo que posso (na feira é mais barato!), reciclo o lixo, evito desperdício, como pouca carne, economizo água... Dou bom dia pra todo mundo, sorrio para crianças e bichinhos e levo meu carrinho até o lugar adequado no estacionamento do super.
Fato é que a vida vai passando e as coisas mudam. Pode ser que a gente se torne mais gentil (?), passe a pensar mais no próximo e nas batalhas que todos travam ao nosso redor. Mas o tempo também nos encapsula na nossa rotina, nas nossas mazelas, no "me", não no "we", e daí a empatia pode não ir muito longe.
O que fica é a dúvida, que sempre me assombrou, desde 1992: o que mais podemos fazer?
Imagens:
As três primeiras foram geradas por IA com prompts criados pelas vozes da minha cabeça;
A terceira é euzinha no meio da Amazônia, numa viagem maravilhosa a Belém do Pará e Ilha de Marajó;
A última é dos olivais da Prosperato.